Prof. Me. Sandro Ribeiro
Tecedor de ideias, conceitos e conhecimentos
Desde que os pensamentos de (LOCKE, 1693), um dos principais protagonistas do empirismo, deram sustentação as propostas do behaviorismo, que parte da educação ocidental apoiou-se na ideia de que nossos alunos seriam uma "tabula rasa" ou o correspondente a uma "folha em branco" a disposição do professor, o “professor transmissor”. Essa é a principal linha da pedagogia instrucional representada por HERBART e, no Brasil, pelos Jesuítas. Essa visão vem, com o tempo entre o fim do século XIX e durante o século XX, sendo questionada por pensadores como PIAGET, ANISIO TEIXEIRA e PAULO FREIRE que chamam a atenção para que sejam considerados os conhecimentos prévios e as vivências dos alunos. Observando o cotidiano da educação, percebemos traços dos dois pensamentos. Há escolas que somente "transmitem" conhecimentos esperando que os mesmos sejam “recebidos” e “gravados” de forma satisfatória e, há escolas que mixam o currículo oficial com os conhecimentos dos discentes e ainda com o cotidiano da comunidade escolar para estimular a tecitura (tecelagem) de culturas e saberes. Concordando com a segunda linha de pensamento, os alunos com suas teias de saberes constituídos por meio de sentidos, de suas vivências e do cotidiano escolar, observariam, traduziriam, mixariam, teceriam, desenvolveriam e experimentariam, através de um constante movimento de tear mediado pelo professor, a sua própria rede de sapiências. Poderíamos então dizer, que uma das funções da escola e da universidade seria viabilizar/produzir/estimular essa tecitura e proporcionar uma constante interconexão de fios/tecidos em uma grande rede de conhecimentos? Se a resposta for sim, até nos conceitos mais simples e que nos acompanham diariamente no trabalho cotidiano da escola, seria interessante atentarmos para a nossa proposta educacional e alinharmos ainda mais o discurso à prática. Por exemplo, falar em construção do conhecimento remete-nos a ideia de linearidade, causalidade e à percepção de que o conhecimento é cumulativo, ou não? Em seu lugar podemos propor, assim como defende FERRAÇO, utilizarmos o conceito de “tecitura”, isso mesmo, tecitura com “C” de tecelagem, de tecelão, daquele que é capaz de tecer emaranhados de fios e uni-los a outros tecidos em uma grande rede de saberes. Dessa forma precisamos nos desvencilhar da forma hegemônica de relação entre docente e discente, representada há séculos pelo “professor transmissor” e, saudarmos com um seja muito bem vindo o “professor tecedor de ideias e conhecimentos” pois a cibercultura está à espreita.